segunda-feira, 11 de julho de 2011

“Eu preciso não esquecer disso"

Os escritores Marcelo Feroni, Edney Silvestre e Teixeira Coelho participaram do terceiro debate na Tenda dos Autores neste sábado (9), na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Mediada por Claudiney Ferreira, a mesa teve como tema "Ficção entre escombros", que trata de romances baseados em traumas político-históricos contemporâneos.
Para Teixeira, que é professor e atual curador do Masp, a história pode ser considerada um tipo de literatura. "As versões da história, sejam elas escritas pelo sociólogo, pelo historiador ou pelo escritor de ficção, se complementam. Os melhores historiadores são grandes literatos, pois são quem melhor sabem contar uma história", declarou o autor

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Ainda segundo o autor, que leu trechos de seu livro "O homem que vive - Uma jornada sentimental", a veracidade dos fatos não é um dado objetivo. "Eu procuro a versão, e não a verdade. Aprendi que a melhor coisa a se fazer é colocar a verdade em discussão. É um ponto fundamental que sempre adotei".
O jornalista Edney Silvestre leu trechos de seu romance "A felicidade é fácil", que se passa nos anos do governo Collor. Segundo o autor, um período de "terror" para os brasileiros. "Além do desastre econômico protagonizado por aquela senhora que representava o presidente da república (referência à então ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello), tivemos acrescidas à inflação um nível de corrupção escancarada que ainda não se conhecia", disse o escritor em referência aos "escombros", que batizou a mesa.
Silvestre acredita que mesmo os fatos ruins são necessários para que a história não seja esquecida. "Devemos lembrar sim. É preciso. Os escombros têm essa função e devem permanecer. Ainda lembro como fiquei horrorizado com o que acontecia na época. Vi muita gente abandonando o Brasil em busca de sobrevivência. Eu preciso não esquecer disso".
Já o também jornalisra Marcelo Ferroni, que leu trechos de "Guerra de guerrilhas", o que definiu como uma biografia ficcional de Che Guevara. Misturano fatos históricos com acontecimentos reais, Ferroni contou que procurou "distorcer" a verdade.
"Ao mesmo tempo em que fiz muita pesquisa, comecei a inventar fatos, criar uma outra coisa em cima da verdade. Passei então a recontar um período na ida do guerrilheiro do ponto de vista do romance", revelou.

Texto original de G1.com
Imagem: Google imagens

Postado por Joice Ribeiro

quarta-feira, 6 de julho de 2011

"Direito à maconha! Direito memória também!"

Luís Fernando Veríssimo - O Estado de São Paulo





Deixa ver se eu entendi. Querem liberar a maconha e proibir a pesquisa histórica, mesmo para fins terapêuticos. É isso? Nacionalizar a maconha e privatizar o passado? Uma coisa não teria nada a ver com a outra se a atitude comum do brasileiro em relação à sua história não se parecesse com a letargia e a despreocupação que - dizem, eu nunca provei - caracteriza o barato da maconha. Agora mesmo, pode-se imaginar que muita gente marchará pelo direito de fumar maconha sem culpa, no que estará com toda a razão, mas não se prevê nenhuma grande manifestação popular contra a proposta de proibir para sempre o acesso a certos documentos históricos, com faixas dizendo "Queremos saber tudo sobre a guerra do Paraguai". E no entanto o direito de conhecer o passado sem restrição deveria ser tão natural quanto o direito a um baseado descriminalizado. Não bastasse os militares sentados em cima dos dados e das dúvidas sobre o período da repressão vem essa ideia do segredo eterno para sonegar ainda mais à nação sua própria biografia. O objetivo é concluir que o passado não existiu e não se fala mais nisso. A presidente, dizem, aceitou a ideia do Sarney e do Collor, logo do Sarney e do Collor, contrariando o que deveria ser o seu instinto. Ó Dilma!

Imagens do Google Imagens.

Postado por Joice Ribeiro