Semana passada fiz uma descoberta incrível. Descobri um blog da Universidade de Stanford que permite a qualquer leitor interessado pelas aventuras de Sherlock Holmes, o famoso detetive do século XIX criado por Sir Arthur Conan Doyle, a ler as histórias no exato formato do folhetim da época, como se você estivesse lendo a The Strand Magazine em suas mãos, ou de modo mais realístico, na tela do computador. Como fã de carteirinha do detetive, resolvi escrever aqui no blog do CMA as relações indiretas que o detetive tem com a História, e mais ainda, o próprio acervo do Centro de Memória.
Na verdade, o que existe de mais fantástico em Sherlock Holmes e o que foi responsável pela sua popularidade na literatura policial, é o seu método de investigação. Este é, como diria o inspetor Lestrade, bem peculiar e algo nunca visto na história da investigação criminal. O próprio Sherlock diria que é algo elementar, ou seja, fundamental para chegar a um resultado cada vez mais próximo da verdade por trás do crime. Isto porque ele prioriza os aspectos mentais mais do que os métodos forenses na cena do crime.
Para dar um exemplo, vou recontar uma cena de Um Estudo em Vermelho, em que Sherlock e o Dr. Watson descem da charrete, a três quadras antes do local do assassinato permitindo assim, que o detetive analisasse as condições da vizinhança, da rua e das casas numa possível comparação. Ao chegar em frente a casa, antes de entrar ele ainda analisa os jardins, molhados pela chuva constante em Londres, a terra e a calçada. Ao encontrar o cadáver, Watson descreve a minuciosa análise que Holmes faz do corpo, desde cheirar os lábios do morto até verificar as solas do sapato que este usava.
Sherlock Holmes é perito em detalhes, estes que passariam despercebidos a qualquer um que desperdiçasse uma boa e minuciosa análise. Ele dá importância crucial aos pequenos elementos da história do crime, inclusive aos personagens “menos” importantes. São estes pequenos detalhes que ao “esconder” a vida daquelas pessoas, no caso de Holmes, fazem-no descobrir o grande motivo do crime.
A análise acima acontece de maneira equivalente quando se trata de Microhistória, também chamada de História vista de baixo, usando de uma metodologia bastante parecida com a investigação criminal de Holmes, pretendendo situar o sujeito e suas relações na sociedade como protagonistas de um processo histórico, sempre levando em conta as outras escalas que fazem parte do cotidiano daquelas pessoas.
Talvez o exemplo mais conhecido de Microhistória seja o trabalho do historiador italiano Carlo Ginzburg chamado “O queijo e os vermes”, no qual ele conta a história do moleiro Menocchio, perseguido pela Inquisição por conta dos seus pensamentos e conceitos considerados heréticos na época. O mais interessante é que através de Menocchio, o autor transmite várias informações sobre a região Friuli, a mentalidade das pessoas e o modo como elas interagiam com a Inquisição e vice e versa.
Assim sendo, posso dizer que todos aqueles que praticam Microhistória se aproximam parcialmente de Sherlock Holmes em seu método peculiar. Agora, com a abertura do Centro de Memória da Amazônia, onde existem não só histórias de pessoas comuns que se tornam importantes a partir de estudos feitos por historiadores, também existem histórias que fazem parte de algo bem maior, onde tudo é elementar, caro leitor.
Texto: Amanda Brito Paracampo
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