sexta-feira, 10 de junho de 2011

Documento do Mês de Junho

Um rapaz e uma moça se apaixonam. Impedidos de viver esse amor por imposição de uma das famílias, decidem colocar um ponto final no sofrimento: morrer juntos para finalmente poderem se amar em paz. Esse enredo lembra alguma coisa? Não, não estamos falando do clássico "Romeu e Julieta", de William Shakespeare. A história em questão aconteceu bem pertinho de nós, em Belém do Pará, nos idos de 1940. Embora trágico, o episódio trata de um tema bastante em voga, o amor, principalmente em junho, considerado o mês dos namorados.

A ação escolhida por nós trata-se de um caso de crime de "induzimento ao suicídio" acontecido em Belém no ano de 1940 na Rua Cesário Alvim, no bairro do Guamá. Vale lembrar que o suicídio não é considerado crime, porém o ato de induzir é considerado crime e punível segundo o Código Penal. (CÓDIGO PENAL DECRETO-LEI N.º 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Art. 122 ). Neste referido ano a jovem Delfina de 17 anos, mantem uma relação de namoro com João de 24 anos. Namoro que não é aprovado pelo pai da jovem, senhor Manoel, por considerar o pretendente um "sedutor de moças".

Com o objetivo de separar definitivamente o casal, o senhor Manoel encaminha sua filha para casa de um padrinho de fogueira, cuja residência localizava-se no bairro de Val-de-Cans. Porém seu objetivo é frustrado, pois os encontros entre o casal continuam. No dia 18 de Dezembro de 1940, Delfina ingere segundo os autos do inquérito policial, uma grande quantidade de arsênico levando-a a morte. Segundo o laudo médico presente na ação, foi constatado que a jovem veio a falecer por conta do veneno, e que a mesma já havia sido deflorada. Dois dias após a morte de Delfina, ao visitar a sepultura de sua finada namorada, João tenta suicidar-se ingerindo também o veneno em cima da sepultura de seu amor, não vindo a falecer por conta do rápido socorro da assistência pública que lhe foi prestado. Para nossa surpresa, o laudo médico anexado aos autos referente ao seu atendimento não indica a presença do veneno em seu organismo. Dai em diante move-se uma ação contra João por acreditarem que o mesmo foi o motivador do suicídio de Delfina, pois na referida ação os depoimentos das testemunhas afirmam que houve uma combinação entre o casal, e que João contrariado pelo pai da moça vinga-se, instigando Delfina a matar-se. O rito sumário inicial, junto com o depoimento das testemunhas foi transcrito e digitalizado, juntamente com os laudos médicos estando todos a disposição do público neste documento do mês.

O processo em análise foi arquivado sem julgamento do mérito. ACERVO: CMA-UFPA; Fundo: TJE-PA; Série: Crime; Subsérie: Suicídio; Ano: 1940; Procedência: 5ª Vara Penal.
 
A escolha do documento, transcrição e redação foram feitas pelos bolsistas Adolfo Max da Silva e Antônio Jaster.
 
 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Antônio, João e Pedro anunciam alegria

A fogueira tá queimando, em homenagem a São João, o forró já começou, vamos, gente, rapapé neste salão ... assim João fogueteiro chamava a criançada para iniciar as festanças juninas, ao som de Gonzagão. Belém era diferente ... pense numa cidade dos anos 60 do século passado, poucas eram as ruas calçadas, portanto, muitas eram as fogueiras que ardiam em homenagem a Antônio, que abria as festas de 12 para 13 de junho. O arraial era grande, afinal, os namorados, os casados e, sobretudo, os casadoiros se comprometiam em festas e promessas para conseguir parceiros ou conservar almas gêmeas.

O "pobre" Antônio podia ficar dias amarrado, às vezes, de rosto para a parede até que o promesseiro alcançasse o milagre, o qual podia ser impossível. As soleiras das casas se iluminavam, cadeiras em roda para permitir conforto aos mais velhos e aos convidados, a criançada em polvorosa a "soltar foguetinhos" (estalinhos e fósforos coloridos eram permitidos), rojões e pistolas ficavam por conta do fogueteiro. Risos por todo lado, baião, xote, forró e a famosa quadrilha completavam os ruidosos festejos.

Marcada por Gonzagão e "sua gente", permitia dança Joaquim com Isabé, Luiz com Iaiá, dança Janjão com Raqué e eu com Sinhá, traz a cachaça, Mané, eu quero vê, quero vê páia [palha] voar. O sotaque evitando os "erres" e acentuados lembrando o francês (aquele que se diz ser de Cametá, como anunciam os marcadores, ainda hoje), fazia parte da tradição.

Desde maio, a moçada se preparava, comprava tecidos especiais, em florão de chita ou em xadrez de quadrilha. As saias eram rodadas e às vestes se costuravam, em retalhos, os supostos remendos às roupas recém-confeccionadas. Os cavalheiros tinham as barras das calças suspensas e muitos retalhos, em bandeirinhas – tal qual os enfeites em papel de seda, espalhados em cordel pelo salão – eram cuidadosamente costuradas às calças que se completavam com camisas de xadrez. As vestes facilitavam a inversão de papéis, homens vestindo saia e mulheres em calças, era farra bem marcada pelos diversos "Joãos" que se esmeravam em anunciar os passos da dança, sempre solicitando o belo balancê, afinal, o show era ver as saias rodando.

Para além das danças, muita comida! Mingau de milho, canjica, pamonha, aluá, bolo de macaxeira e de tapioca, paçoca de gergelim, cocadas para os que gostam de adoçar a boca; para os que gostam de salgados, vatapá, caruru, tacacá e, como festa precisa ser quente, cachaça de Abaté de dois em dois dedos, fazendo a alegria de todos.

Passou Antônio, chega João, de 23 para 24 de junho, santo que, na hierarquia da Igreja, é primaz, tanto que as festas eram joaninas e transformaram-se em juninas. Na sequência, Pedro, de 28 para 29 de junho, e, finalmente, de 29 para 30 de junho, encerrando o ciclo, chega São Marçal. As fogueiras de encerramento eram feitas com paneiros e daí, só no ano seguinte.

Mas, nem só de quadrilhas se fazia a tradição, os pássaros eram/são o forte do Pará! De nomes engraçados, os grupos de pássaros percorriam a rua em busca de alguém que pagasse a comédia e oferecesse dois dedos da branquinha de Abaeté e de Igarapé-Miri, na melhor tradição de esmolar dos santos da Igreja Católica. Eram solicitados de junho ao final julho, para animar as férias da criançada e dar descanso aos adultos, pelo menos enquanto o pássaro contava a história do vaqueiro, marido da mulher desejosa, que tantos problemas causou. A confusão era tamanha, a ponto de ter que chamar o pajé para ressuscitar o boi que perdeu a língua (desejada pela mulher do vaqueiro) e era requerido vivo pelo dono. O momento era mágico, afinal, roceiros e índios se juntavam solidariamente para enfrentar o patrão.

Hoje, o espetáculo das quadrilhas mudou, mas parece recuperar a longínqua tradição francesa, os passos são rigorosamente coreografados e as vestes rigorosamente iguais, os ensaios começam cedo, afinal, quadrilha que se preza só tem gente que brilha e traz troféu, Viva São João! São Pedro e São Marçal, Santo Antônio, que é o santo casamenteiro, quebra o galho pra eu casar!

Os pássaros lutam por manter a tradição e por se fazer presentes nos concursos, mas as fogueiras não mais ardem, a não ser no coração das crianças de ontem. Hoje, a madeira é enfeite e o fogo se faz de brincadeira, assim como as quermesses que faziam a festa da criançada nas escolas, com casamentos na roça e muitas misses caipiras. As disputas pela festa mais bonita eram acirradas. Muitas escolas construíram espaços de lazer, como quadras de esporte, e compraram fanfarras, que tocavam alegremente por ocasião das festas da Semana da Pátria, com a arrecadação das festas em homenagem aos santos de junho.

Os estudantes vendiam os tijolos em cartelas de bingos e sorteio, até mesmo leilões que se realizavam em meio ao ruído dos rojões dentro de uma tradição que se mantém. Hoje, fogueiras e balões – outra bela tradição junina – não são politicamente corretas e, na cidade, não há espaços adequados para queima de fogueiras, mesmo que a madeira fosse fruto de reflorestamento. Assim, vá ao Jurunas, à Cremação, à Condor e a tantos outros bairros, veja os ensaios e as apresentações de quadrilhas e pássaros, e brilhe com os grupos fazendo a festa, junte-se aos fogueteiros de plantão e cante os versos em louvor a São João!

Jane Felipe Beltrão é antropóloga, docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA e pesquisadora do CNPq.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poesia de fim de tarde...

Texto revelação no olhar


E acontece que ela me fixa com seus olhos de brilho penetrante... uma paisagem envolta de uma atmosfera mística, tendo a furta-cor em predominância e determinante do fio de nossas vidas. É tão simples pra os transeuntes bêbados e absortos em seus pensamentos: é apenas uma guria fitando, com seu olhar sugador, um rapaz, pobre rapaz, por sinal. Que diante de beleza ímpar, às vezes engole forçosamente palavras que há tempos queria lhe dizer, talvez por medo de interromper aquele momento sublime, o momento em que palavras se mostram por inúteis. O momento do olhar. Calor e frio que percorrem a minha e espinha, numa mistura de sensações, cheiros e cores. Nesse momento, o momento do olhar, todo o restante instantaneamente perde em importância e significado, e tudo o que sobra é essa ligação estranha que temos, um elo que prende a minha atenção e desprende minha alma do corpo e o eleva a um mundo doce, onde a perfeição impregna cada pedaço do espaço-tempo. Realmente é um caminho sem volta, um beco sem saída. E é inútil resistir, é inútil entendê-lo, só resta senti-lo.
Autor: Erick Silva

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Oficina de Fotografia com Miguel Chikaoka

Entre os dias 14 e 18 de março de 2011, toda a equipe do Centro de Memória da Amazônia participou de um curso ministrado pelo renomado fotógrafo Miguel Chikaoka, no curso denominado "Brincando com a Luz" a equipe do CMA-UFPA aprendeu noções acerca do processo fotográfico bem como teve a experiência de produzir câmeras Pinhole. Algumas fotos do referido curso: