Era para ser apenas um projeto da feira da cultura do colégio, mas o vídeo “Cabanos” foi além. Produzido por alunos da Escola Estadual Temístocles Araújo, do bairro da Marambaia, periferia da Grande Belém, o filme sobre a Revolta da Cabanagem, ocorrida em 1835, no Pará, logo tornou-se uma produção caseira, de uma hora e meia de duração,envolvendo 102 pessoas, entre professores e alunos do Ensino Médio e Fundamental. Um trabalho que levou um ano para ficar pronto.
“No começo, a ideia era bem simples: produzir um material didático sobre a Cabanagem, um tema de grande importância histórica, mas ainda pouco debatido. Os livros didáticos tratam esse movimento com preconceito. Mas o que mais me incomodava era o desconhecimento dos alunos. Muitos só associavam a Cabanagem ao nome do bairro que existe em Belém”, diz o professor de História Sebastião Pereira, idealizador do projeto. “Já tínhamos um projeto de teatro na escola. Então pensei: por que não fazer um filme? Foi uma das maiores loucuras da minha vida. Nunca tinha nem mexido em uma câmera”, revela.
No final das contas, Sebastião escreveu o roteiro, produziu, dirigiu, filmou e editou. Tudo com dinheiro do próprio bolso e ajuda dos alunos. “Começamos do nada, sem recursos, e tivemos que correr atrás. Promovemos bingos, rifas, festas juninas e vaquinhas. Fomos até o final com o mesmo entusiasmo”, conta o professor, que avalia em R$ 10 mil o investimento em “Cabanos”.
Da falta de dinheiro veio o improviso e trabalho dobrado. Como a produção só tinha uma câmera de vídeo, dada de presente a Sebastião por sua esposa, uma mesma cena precisava ser refeita por vários dias, para se chegar aos diferentes ângulos necessários à edição.
Misturando mel e anilina, o diretor bolou sua própria receita de sangue falso. Para os tiros das carabinas, a gambiarra foi mais engenhosa: juntou amido de milho e bombinha de São João. “Nas cenas de ação era só acender e ‘bum’. Era como se fosse um tiro”, diz Andrei dos Santos, aluno que interpreta o revolucionário Eduardo Angelim.
Andrei faz parte dos 90 alunos que participaram como atores da produção. As filmagens ocorriam durante os finais de semana e a turma aproveitava os períodos de greve para intensificar os trabalhos.
Apesar das limitações orçamentárias, o filme é baseado numa pesquisa histórica, como relata o diretor. “Para as roupas de escravos usamos algodão cru, e para a aristocracia, cetim. Tentei não me esquecer de nenhum detalhe. Antes de ser diretor, sou professor de História”, ressalta.
No entanto, para aproximar o enredo do público, foi necessário inserir uma pitada de drama. “‘Cabanos’ não é um documentário. Eu quis contar a história sob uma perspectiva mais humana, para que as pessoas pudessem se relacionar com ela”, diz ele, que partiu de uma família de ribeirinhos que se vê envolvida no conflito.
“A partir daí, explorei os principais temas do filme: o ponto de vista dos ribeirinhos, dos escravos, dos fazendeiros, dos índios e do governo.E mostrei como esses interesses entravam em conflito”, resume.
RESPOSTA: Kaleb Teixeira interpreta Chicão, um dos personagens nascidos da imaginação do professor. Chicão é amigo de Zé do Mato, ribeirinho que se encanta pelo ideal de igualdade do movimento cabano e parte para a luta armada. Kaleb se dizia surpreso em seu momento de sagração, durante a primeira exibição do vídeo, no último sábado, 30, no Cine Olympia. “As pessoas estão me tratando como estrela. Esse filme é uma vitória, uma resposta para quem critica a escola pública. Lá não se faz apenas vídeo de sexo”, disse ele.
“No começo, a ideia era bem simples: produzir um material didático sobre a Cabanagem, um tema de grande importância histórica, mas ainda pouco debatido. Os livros didáticos tratam esse movimento com preconceito. Mas o que mais me incomodava era o desconhecimento dos alunos. Muitos só associavam a Cabanagem ao nome do bairro que existe em Belém”, diz o professor de História Sebastião Pereira, idealizador do projeto. “Já tínhamos um projeto de teatro na escola. Então pensei: por que não fazer um filme? Foi uma das maiores loucuras da minha vida. Nunca tinha nem mexido em uma câmera”, revela.
No final das contas, Sebastião escreveu o roteiro, produziu, dirigiu, filmou e editou. Tudo com dinheiro do próprio bolso e ajuda dos alunos. “Começamos do nada, sem recursos, e tivemos que correr atrás. Promovemos bingos, rifas, festas juninas e vaquinhas. Fomos até o final com o mesmo entusiasmo”, conta o professor, que avalia em R$ 10 mil o investimento em “Cabanos”.
Da falta de dinheiro veio o improviso e trabalho dobrado. Como a produção só tinha uma câmera de vídeo, dada de presente a Sebastião por sua esposa, uma mesma cena precisava ser refeita por vários dias, para se chegar aos diferentes ângulos necessários à edição.
Misturando mel e anilina, o diretor bolou sua própria receita de sangue falso. Para os tiros das carabinas, a gambiarra foi mais engenhosa: juntou amido de milho e bombinha de São João. “Nas cenas de ação era só acender e ‘bum’. Era como se fosse um tiro”, diz Andrei dos Santos, aluno que interpreta o revolucionário Eduardo Angelim.
Andrei faz parte dos 90 alunos que participaram como atores da produção. As filmagens ocorriam durante os finais de semana e a turma aproveitava os períodos de greve para intensificar os trabalhos.
Apesar das limitações orçamentárias, o filme é baseado numa pesquisa histórica, como relata o diretor. “Para as roupas de escravos usamos algodão cru, e para a aristocracia, cetim. Tentei não me esquecer de nenhum detalhe. Antes de ser diretor, sou professor de História”, ressalta.
No entanto, para aproximar o enredo do público, foi necessário inserir uma pitada de drama. “‘Cabanos’ não é um documentário. Eu quis contar a história sob uma perspectiva mais humana, para que as pessoas pudessem se relacionar com ela”, diz ele, que partiu de uma família de ribeirinhos que se vê envolvida no conflito.
“A partir daí, explorei os principais temas do filme: o ponto de vista dos ribeirinhos, dos escravos, dos fazendeiros, dos índios e do governo.E mostrei como esses interesses entravam em conflito”, resume.
RESPOSTA: Kaleb Teixeira interpreta Chicão, um dos personagens nascidos da imaginação do professor. Chicão é amigo de Zé do Mato, ribeirinho que se encanta pelo ideal de igualdade do movimento cabano e parte para a luta armada. Kaleb se dizia surpreso em seu momento de sagração, durante a primeira exibição do vídeo, no último sábado, 30, no Cine Olympia. “As pessoas estão me tratando como estrela. Esse filme é uma vitória, uma resposta para quem critica a escola pública. Lá não se faz apenas vídeo de sexo”, disse ele.
*(Fonte: Diário do Pará-01/06/10)
Postagem por Marília Cunha, bolsista do CMA.
Postagem por Marília Cunha, bolsista do CMA.
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