Artefatos encontrados durante obra estão em
exposição no Forte do Castelo
por Helder Ferreira / Janeiro 2012
foto Mácio Ferreira
Belém está comemorando 396 anos de fundação e toda vez que chegamos à data de 12 de janeiro, voltamos nossa atenção para a história da cidade. Retornam às nossas mentes as aulas de História sobre a chegada da frota de Francisco Caldeira Castelo Branco nas terras que, mais tarde, seriam paraenses. Entretanto a memória apenas registra a História de Belém de 1616 para cá, mas, antes disso, já havia uma trajetória construída por outros povos.
Para saber quem eram esses povos e como viviam antes da capital do Pará ser fundada, Fernando Luiz Tavares Marques, doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- RG) e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, desenvolve estudos no âmbito da Arqueologia Histórica. Alguns resultados estão no artigo Um sítio indígena sob a Feliz Lusitânia: Descobertas recentes em arqueologia urbana, em Belém do Pará, incluído no livro Belém do Pará: História, Cultura e Sociedade, publicado pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará.
Segundo Fernando Tavares Marques, o trabalho resulta da percepção de um potencial arqueológico encontrado no solo de prédios e monumentos históricos, como Forte do Presépio, Estação das Docas e Largo do Carmo. Restos de vasilhas cerâmicas pintadas e alguns artefatos de pedra associados a uma considerável área com solo de coloração escura evidenciam que esses lugares foram habitados por civilizações indígenas de um período até anterior à chegada dos europeus na região. “Já conhecíamos alguns relatos históricos sobre a presença desses povos nesta terra, mas ainda não tínhamos nada de concreto nas mãos. Foi depois de encontrarmos esses vestígios, enterrados em uma camada de terra escura no entorno do Largo da Sé, que levantamos uma hipótese real da existência desses povos que remontam mais de 500 anos,” explica o pesquisador.
Descobertas surgem a partir de restaurações
Algumas dessas descobertas arqueológicas se deram a partir de obras de reforma e restauração de monumentos e locais turísticos de Belém como o Forte do Castelo, onde foram encontrados os alicerces da antiga capela de Santo Cristo, que existiu até o final do século XVIII, e cerca de 100 mil amostras de material arqueológico, entre as quais, 25% constituem-se de fragmentos e utensílios com traços da cultura indígena.Na pesquisa realizada na área da Estação das Docas, foram coletados quase 3 mil fragmentos de cerâmica relativos a utensílios como tigelas e panelas antigas que remontam a uma civilização indígena que habitava o local. Já no Largo do Carmo, foram encontrados moedas e outros materiais oriundos do Período Colonial e também esqueletos com características indígenas, como a presença de dentes incisivos com predominância de pá (dupla e simples). Evidências que indicam a existência de um cemitério indígena no local relacionado pelo menos à época do contato entre os portugueses e os nativos.
Regiões com boas condições de sobrevivência, como aquelas próximas aos rios, protegidas de inundações e fartas em comida e água potável, possuem maiores chances de terem sido habitadas por outras civilizações. A imensa área que compreende Belém e sua Região Metropolitana é, portanto, uma região propícia para estes achados. Fernando Luiz Tavares Marques apontou outros lugares em que já foram encontrados vestígios históricos, como nos municípios de Marituba, Barcarena e na região de Jaguarari, no Rio Moju, próximo a uma das pontes da Rodovia Alça Viária.
Segundo o pesquisador, a prospecção na região de Jaguarari revelou o sítio de um antigo engenho onde, antes, havia existido uma missão jesuítica com cerâmicas datadas em mais de 700 anos, portanto referente a uma aldeia anterior.
“É muito provável terem existido muitas aldeias indígenas e, com a chegada dos europeus, algumas se transformaram em missões e depois se tornaram cidades, como, Santarém. Em Lugares que reúnem todas as condições para a sobrevivência de grupos humanos, podemos imaginar o quanto de história tem em seu solo. Esse é o nosso trabalho. Descobrir esse passado, investigá-lo e trazê-lo à tona”, explica.
Preservação do local preocupa pesquisadores
Para os pesquisadores, a grande preocupação, quando a cidade é o local de prospecção, é conservar o lugar em que os objetos ficaram enterrados e foram descobertos. Para a Arqueologia, é imprescindível a conservação desses achados, pois qualquer dano pode ser desastroso, prejudicando o estudo em laboratório para saber a origem, a idade e como o objeto foi parar naquele local.“Quando a Prefeitura de Belém estava construindo um restaurante popular no centro da cidade, alguns operários acharam vestígios arqueológicos enquanto faziam as fundações do prédio. Imediatamente, eles acionaram os órgãos competentes para fazer a retirada desses materiais”, lembra Fernando Marques.
Entretanto isso nem sempre acontece. “Em outros casos, a retirada desses materiais é apontada como um empecilho, pois a obra precisa ser paralisada para não prejudicar a pesquisa. Seria recomendável estabelecer ações de parceria entre os órgãos que licenciam obras e as instituições de pesquisas arqueológicas para que isso possa ser resolvido rapidamente”, avalia.
O Forte do Castelo e a Estação das Docas têm áreas destinadas para exposição de material arqueológico encontrado durante a reforma dessas áreas para fins turísticos. Fernando Marques aponta que estes dois lugares são bastante visitados, sendo que o Forte do Castelo é o primeiro em visitação. Estes são exemplos de que a população tem, sim, interesse em visitar e conhecer um pouco mais da sua história.
“O que falta é divulgação entre o grande público ou a criação de espaços musealizados no entorno desses sítios, para que a população local e o turista conheçam mais a respeito das civilizações que, antes de nós, já viviam em solo amazônico”, conclui.
http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/1300-uma-outra-historia-de-belem
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