Comece pelas águas grandes. Os rios de todas as cores, que no dizer do poeta são as nossas ruas, o levarão a uma viagem inesquecível. Mergulhe nos peraus sem fim, visite as encantarias. Yara ou boto – escolha o seu par vão lhe proporcionar uma nova dimensão do prazer.
A chuva da tarde, que não vai faltar, lhe dirá a hora do descanso, não sem antes receber os quitutes, através dos duendes da floresta: a maniçoba, o muçuã, o pato no tucupi e todas as iguarias que jamais sonhou e, para completar, a cuia de açaí. Assim sucumbirá, numa rede de tucum, à santa sesta, com direito ao canto do uirapuru. Ao despertar, pergunte ao Pajé mais próximo quais trilhas que levam à cidade, o curupira vai protegê-lo dos homens de mau agouro – que também os há nessas bandas – sempre ávidos na rapina das nossas riquezas.
Visite as igrejas do barroco. Assista a uma ópera no Theatro da Paz. Conheça o talento setecentista do Landi, aquele que antecipou o neoclássico no Brasil. Olhe para cima, Belém tem teto, verde e frutífero, são as nossas centenárias mangueiras lhe dando boas vindas. Compre as ervas do Ver-o-Peso, servem para curar todos os males, do corpo e da alma. Se a sua crença for pequena, procure uma casa de pena e maracá, nas cercanias da cidade, e tudo estará resolvido. Preserve o fim de tarde na Estação das Docas, sintonize o espírito no pôr-do-som e experimente entregar-se aos nossos ritmos e danças, ao sabor dos mais variados sorvetes das tantas frutas exóticas, a extasiar os paladares mais requintados.
Se, mesmo assim, tiver de partir, leve, ancho, a nossa saudade e diga por aí que existe “um país que se chama Pará”, situado num continente que se chama Amazônia. Quem sabe eles acreditem na sua Pavulagem de que tudo isso também é Brasil.
Paulo Chaves Fernandes.
Fonte: Texto de Apresentação da obra: “Pará: cores e sentimentos = Pará: colors and feelings/Geraldo Ramos, Octavio Ramos. – São Paulo: Escrituras Editora, 2004.”
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